Juventude e família: problemas e desafios para 2018

Entre os sintomas da crise e as tentativas de resolver, o ano que acabou de começar já projeta luzes e sombras. Em primeiro lugar, nesse mundo em miniatura que é o ambiente doméstico. A análise do padre Gonçalves

Determinadas situações preocupam a todos e sinalizam na direção de algumas luzes e sombras que nos aguardam neste início de 2018. A voo de pássaro, vejamos mais de perto sete dessas realidades, entre tantas outras de importância igual ou até maior: a juventude orfã, a família, o mundo do trabalho, o protagonismo da mulher, a multidão dos sem pátria, o retrocesso da democracia e as mudanças climáticas.

Todas se entrelaçam no jogo de xadrez do cenário globalizado, seja quanto aos sintomas de gravidade, seja na busca de saídas para a crise prolongada na qual estamos imersos.

A juventude orfã

Na verdade, os pais estão presentes e ao mesmo tempo ausentes. O que está em debate é o papel real da autoridade paterna e materna. Numa sociedade onde as grandeas referências se diluem, os laços outrora sólidos também se derretem. Tudo se torna provisório, efêmero, descartável, incluindo o amor, a amizade, a família, a orientação vocacional, a construção de um futuro. Mais do que projetar a própria vida, os jovens tendem a buscar respostas imediatas para perguntas urgentes. Em lugar de refletir sobre os problemas, exigem soluções ao alcance da mão. Experimentos provisórios e superficiais substituem a profunda experiência da vida.

Evidente que a crise e o desemprego juvenil agravam as coisas. Despreparados para esse comportamento “líquido”, os pais não sabem o que fazer. Não raro conseguem ser companheiros, amigos – mas não pais e mães ao ponto de estabelecer uma “liberdade com os devidos limites”. Daí uma geração de jovens predominantemente sós, orfãos e perdidos. Das duas uma: esse senso de orfandade mais ou menos generalizada ou se revela terreno fértil para o desafio de construir novas referências e novos horizontes, ou degenera em apatia, indiferença e desencanto.

A família

Ventos tempestivos rugem furiosamente às portas da célula familiar. A desorientação juvenil depende, em boa parte, de ambientes familiares sem o calor humano de um verdadeiro “lar”. Na medida em que entra pela porta o desamor e a indiferença, não raro associados às drogas e ao álcool, a harmonia e a relação fraterna saem pela janela. De outro lado, às vezes tem-se a impressão que os meios de comunicação, com destaque para a Tve a Internet, se coligaram para assaltar o matrimônio e a família, destruindo valores construídos em séculos de convivência.

Nota-se uma maior liberdade no interior da unidade familiar, sem dúvida, mas essa nem sempre vem acompanhada de seu correspondente, isto é, o aspecto da responsabilidade. As crianças e adolescentes chegam à juventude, e mesmo à vida adulta, não somente orfãs de pai e mãe vivos, como vimos, mas especialmente privadas de um ambiente familiar saudável.

Na falta desse terreno fértil onde a árvore mergulha suas raízes, as plantas tendem a crescer de forma frágil, desequilibrada e desigual. Gigantes em termos técnicos, profissionais e até intelectuais; nanicos no que se refere às relações afetivo-sexuais e ao amadurecimento humano. Dois desafios: por uma parte, o de conjugar a família no plural, levando em consideração as diferentes formas de convivência debaixo do mesmo teto; por outra, reconstruir o conceito de família adaptada aos desafios da modernidade tardia ou da pós-modernidade, tendo em conta o binômio liberdade/responsabilidade.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs