O desafio de uma solução para cada pessoa e para a comunidade

Conciliar as necessidades locais e globais é difícil, mas devemos fazê-lo, para evitar cair no populismo nacionalista ou em um idealismo tão amplo quanto vago. A reflexão do padre Gonçalves continua (aqui os outros artigos)

Retrocesso da democracia

Refém do mercado total, especialmente financeiro, a democracia exibe com clamorosa evidência dois graves sintomas. Primeiro, o fosso crescente que se criou entre os cidadãos eleitores, de um lado, e, de outro, os representantes políticos eleitos.

O dia-a-dia da prática política, seja no poder legislativo, no judiciário ou no executivo, parece cada vez mais surdo e indiferente ao dia-a-dia da população, especialmente dos setores de baixa renda. Os candidatos, em sua maioria, queimam as escadas que os ajudaram a subir ao poder. Não sabem como descer do trono e não permitem que o povo suba.

A linguagem nos eventos e corredores da política está a quilômetros de distância da linguagem do cotidiano socioecônomico popular. Quanto ao segundo sintoma – a corrupção – não vale a pena desperdiçar mais tempo e palavras. Tendo presente as eleições de 2018, é possível recriar canais e instrumentos de uma prática democrática com a participação e a deliberação popular?

Mudanças climáticas

Tema transversal aos anteriores, afirmam alguns. Mas talvez seja mais correto sustentar que todas as temáticas acima se cruzam num palco cada vez mais complexo e intrincado.

A devastação ou preservação do meio ambiente, com efeito, preocupa muitos jovens, está na raiz de muitos deslocamentos humanos de massa e faz parte da agenda política tanto nacional quanto internacional. Os acordos para frear o aquecimento global existem, mas até que ponto são cumpridos? Que consequências se podem esperar da retirada dos Estados Unidos do acordo de Paris?

Estas e outras interrogações – que se levantam no interior mesmo dos temas apontados – batem com insistência às portas de 2018. Como encontrar anternativas viáveis ao estado de coisas em vigor? Hoje as soluções comportam, simultaneamente, um aspecto local e um aspecto global.

Agir localmente e pensar globalmente tornou-se um refrão dos movimentos sociais e organizações não governamentais. Resta, contudo, o difícil desafio de ligar os dois aspectos, sem cair no populismo nacionalista nem no idealismo tão amplo quanto vago.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs